SIMA e GIZ divulgam estudo de previsão do clima para a Baixada Santista
Publicado por Midia CBHBS em
Documento científico faz parte do Projeto Municípios
Paulistas Resilientes e apresenta cenários até o final deste século.
Para auxiliar a Baixada Santista na elaboração de seu Plano
Regional de Resiliência e Adaptação Climática, a Cooperação Alemã para o
Desenvolvimento Sustentável (GIZ) contratou um estudo com análises de projeções
climáticas para a região. O trabalho faz parte do Projeto Municípios Paulistas
Resilientes (PMPR) da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA) do
Estado de São Paulo. O Relatório Final das Análises Climáticas para a Baixada
Santista Considerando Dados Observados e Modelagem do Clima Futuro, divulgado
nessa quinta-feira (24) em um evento virtual, utiliza como referência os dados
de temperatura e precipitação registrados entre 1976 e 2005, comparando-os com
os resultados do conjunto de projeções de 20 modelos climáticos para os
períodos 2021-2050; 2051-2080 e 2081-2100.
“Para auxiliar os trabalhos que se iniciam em 16 de março, o
Estado vai capacitar os técnicos e técnicas das 9 cidades a manusear os dados e
identificar as vulnerabilidades para estabelecer as iniciativas e metas na
Baixada Santista. Como resultado teremos o Plano Regional de Resiliência e
Adaptação Climática, uma iniciativa pioneira no páis”, disse a diretora da
Assessoria Internacional da SIMA, Jussara Carvalho.
“Os impactos da mudança do clima desconhecem as fronteiras
dos municípios, das regiões, estados e países. Para aumentar a resiliência do
território, é preciso conciliar e integrar os esforços dos diferentes níveis de
governo para o desenvolvimento desta estratégia regional da Baixada Santista”
complementou a diretora de projetos da GIZ, Ana Carolina Câmara.
Para realizar as análises climáticas, o estudo dividiu a
Baixada Santista em três compartimentos territoriais diferentes: porção Sul,
Central-Serra e Central-Planície, levando em consideração alguns padrões climáticos
observados pelos dados históricos.
“Precisamos entender a realidade dos dados e informações
para trabalhar de forma efetiva. O Projeto na região vai ajudar na concepção e
a estabelecer as ações necessária para definir as políticas públicas desse desafio
intersetorial que reflete no meio ambiente, saúde, habitação entre outros”,
destacou na abertura do evento, o diretor-adjunto da Agência Metropolitana da
Baixada Santista, Márcio Quedinho.
O estudo apresentado pelo responsável técnico, cientista Pedro
Ivo Camarinha, se baseou na em métodos sugeridos pelo estado-da-arte da ciência
do clima, no conhecimento dos especialistas, além de técnicas inovadoras que
foram incorporadas em ambiente de programação. Um dos avanços, é que foram
feitas análises estatísticas robustas considerando todo o conjunto de dados
obtido pelos 20 modelos climáticos. Além disso, foram feitas análises
exclusivas para o período chuvoso, compreendido entre os meses de outubro a
março, e seco, compreendido entre abril a setembro, o que traz mais clareza a
respeito dos diferentes impactos da mudança do clima quando comparado com
estudos que avaliam apenas os dados anuais.
“Mesmo com avanço desta análise climática, ainda é recomendável estudos mais
aprofundados e continuados por toda a Baixada Santista, sobretudo a respeito de
como as mudanças do clima detectadas poderão amplificar os risco climáticos já
existentes, além de permitir o melhor direcionamento de medidas de planos de
adaptação e redução de risco, tais como as chamadas ações de adaptação baseada
em ecossistema (AbE), ações de educação ambiental, normativas e leis de uso e
ocupação, além da capacitação e suporte à Defesa Civil dos municípios”,
destacou Camarinha.
Dentre os resultados obtidos, destaca-se a alta
possibilidade de valores extremos de temperatura ocorrerem na porção Sul,
caracterizando ondas de calor mais frequentes e severas, especialmente após
2050.
No que se refere aos eventos extremos de chuva, os
resultados sugerem que estes poderão se tornar mais frequentes nas regiões de
maiores altitudes, especialmente aquelas nas proximidades das encostas da Serra
do Mar em Cubatão, Santos, São Vicente e Guarujá, que já recebem os eventos de
precipitação mais elevados historicamente.
Para estimar os níveis de incerteza contidos de cada
alegação a respeito das mudanças do clima, foi utilizada uma matriz de
referência baseada em i) no nível de concordância dos 20 modelos climáticos
utilizados ao indicar tal tendência e ii) o nível de magnitude da evidência
detectada; que classifica as previsões com níveis de confiabilidade muito
baixa, baixa, média, alta e muito alta.
De acordo com as análises, as chuvas podem aumentar tanto em
magnitude quanto em frequência já nas próximas décadas e muito provavelmente se
acentuarão ainda mais na segunda metade do século. Esses fenômenos poderão
causar mais eventos de inundações bruscas, enxurradas, alagamentos, processos
erosivos e deslizamentos de terra; especialmente nas regiões de serra e logo
abaixo delas.
Os resultados das análises indicaram um aumento de pelo
menos +1ºC na média das temperaturas máximas e mínimas até 2050 (confiabilidade
muito alta), especialmente no verão, que poderá ter ondas de calor mais severas
e cerca de cinco vezes mais frequentes.
Além disso, o estudo indica que quanto mais extremo for um
evento já registrado historicamente, maior será o aumento relativo de sua
frequência. Por exemplo, até 2050, eventos com tempo de recorrência de 15 a 10
anos tendem a acontecer pelo menos a cada 5 anos (alta confiabilidade).
As previsões apontam que os eventos recordes de precipitação
em 1, 3 ou 5 dias tendem a ser quebrados com mais frequência. As chuvas mais
brandas de menor intensidade, que são historicamente mais frequentes, passarão
a acontecer um pouco menos que o normal.
Nos dois períodos analisados (chuvoso e seco), sobretudo nos
meses de transição, é provável que ocorram mais veranicos e estiagens, os quais
também tendem a ser mais severos, o que eventualmente pode causar situações de
déficit hídrico significativo, pois períodos de baixa precipitação devem
coincidir com períodos de elevadas temperaturas e elevada evapotranspiração da
floresta.
Durante o “período seco”, as anomalias de temperaturas
abaixo da média por muitos dias consecutivos vão ser tornar mais raras até
2050, sendo que, após esta data, é virtualmente certo que a região não tenha
mais eventos desse tipo se as trajetórias de emissões globais de gases de
efeito estufa seguirem no mesmo ritmo acelerado em que estão.
A contratação do estudo faz parte do ProAdapta – Apoio ao
Brasil na Implantação da sua Agenda Nacional de Adaptação à Mudança do Clima,
uma parceria entre o Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA) e o Ministério
Federal do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha
(BMU, sigla em alemão).
Sobre o estudo
O estudo dividiu o território da Baixada Santista em três
compartimentos, Sul, Central-Serra e Central-Planície, baseados na
variabilidade espacial de alguns indicadores climáticos como temperatura e
precipitação. A análise utilizou dados observados do período entre 1976 e 2005
como referência comparativa em relação aos resultados obtidos para os períodos
de 2021-2050; 2051-2080; 2081-2100. Embora seja uma região pequena do ponto de vista
climatológico, a divisão foi necessária por possuir alguns contrastes bem
definidos devido às suas características geográficas e ambientais.
A metodologia aplicada foi capaz de identificar os
principais sinais climáticos esperados para as próximas décadas contemplando
uma análise de indicadores, utilizando multimodelos regionalizados (20 no
total) e cientificamente validados, respeitando as incertezas associadas.
O documento também discute, de forma indireta, possíveis
mudanças relacionadas às descargas elétricas, que é um outro tipo de risco
climático presente na região, sugerindo poderá haver uma maior incidência
destas conforme o aquecimento global se torna realidade. Teoricamente, uma
maior quantidade de eventos extremos de chuva está atrelada também à uma
ocorrência maior de tempestades, normalmente acompanhadas de descargas
elétricas nesta região, sobretudo nos
meses mais quentes do ano.
Porção Sul: localizada entre os municípios de Peruíbe,
Mongaguá e Itanhaém (com exceção de sua parte alta), foi verificado que essa é
a região mais quente no período de referência (1976-2005) e que também será a
com maiores valores absolutos de temperatura nos períodos futuros (alta
confiabilidade). De todos os resultados, o mais preocupante se refere às ondas de
calor, durante o verão, que são classificadas como eventos de temperatura bem
acima do normal e com permanência de pelo menos seis dias consecutivos.
Dependendo da trajetória de emissões de gases de efeito estufa nas próximas
décadas, é muito provável que estas ondas de calor se tornem até 10 vezes mais
frequentes entre 2050-2080, o que significaria algo entre 2 e 3 ondas de calor
por verão.
Há também evidências significativas a respeito do aumento da
frequência e duração das “ondas de calor” durante o período seco,
principalmente no inverno, assim como da duração dos dias consecutivos sem
chuva. Estes dois fatores combinados, estiagem com altas temperaturas, podem
acarretar diversos tipos de impactos para a saúde humana, nos recursos hídricos
e nos ecossistemas em geral.
Classificados também como alegações de alta confiabilidade,
são esperados mais dias com extremos de temperatura, já nas próximas décadas
(2021-2050), onde a média das temperaturas máximas ao longo da estação podem
ultrapassar os 30 ºC em alguns anos, juntamente com dias de calor extremo
ultrapassando máximas de 38 ºC.
No que se refere aos eventos extremos de chuva
potencialmente deflagradores de deslizamentos de terra generalizados (acima de
220 mm em 72h), chama a atenção o encurtamento do período de ocorrências que,
muito provavelmente, será de um evento a cada 3 anos, ao invés de a cada 5-6
anos.
Os altos índices pluviométricos observados nas partes mais
altas da Serra do Mar e o cenário de intensificação das chuvas pode fazer com
que eventos de grande magnitude se manifestem mais frequentemente nas áreas à
montante, se propagando rapidamente para as áreas mais baixas com alto
potencial de impacto, demandando especial atenção por parte do poder público.
Porção Central-Serrana: é caracterizado por toda parte
serrana e de altitudes elevadas, que vai desde Mongaguá, Praia Grande e São
Vicente, passando por Cubatão, metade da parte continental de Santos até a
divisa entre Bertioga e São Sebastião.
Sua principal característica histórica se refere aos
elevados índices de chuva. Essa é uma
característica natural do clima da região, sendo que as projeções do clima
futuro indicam que todos estes padrões se intensificarão ainda mais nas
próximas décadas (alta confiabilidade). Esta constatação evidencia a
necessidade de um planejamento antecipado a estas mudanças do clima, uma vez
que podem determinar no aumento significativo de diversos riscos climáticos
associados e que estão presentes historicamente pelo território desta porção da
Baixada. Neste sentido, destaca-se o potencial aumento considerável de
deslizamentos de terra, especialmente em eventos com ocorrências generalizadas
e com alto potencial de impacto (confiabilidade muito alta), assim como
inundações bruscas, enxurradas e alagamentos (alta confiabilidade).
Todo este cenário demonstra ainda mais a importância da
conservação da Mata Atlântica em toda a Baixada, especialmente na porção
serrana e de maiores altitudes.
No que se refere aos resultados da temperatura, não há
grandes discrepâncias entre o que foi observado nas demais regiões. Há um
padrão evidente de aumento das temperaturas médias, mínimas e máximas que
provavelmente acompanharam as tendências de aumento da temperatura média
global.
As análises para esta porção também sugerem que há a
possibilidade significativa das estiagens aumentarem nos períodos de transição
(começo do outono e final da primavera), e que estes poderão ser acompanhados
de dias com temperaturas bem mais elevadas que o normal, o que aumentaria a
evapotranspiração da mata nativa das encostas da Serra do Mar, diminuindo a
disponibilidade hídrica, impactando a fauna e flora, sobretudo os ecossistemas
mais frágeis como por exemplo os manguezais.
Porção Central-costeira: essa porção compreende a planície
costeira que vai de Praia Grande até Bertioga. Os resultados sugerem
incrementos significativos na mesma proporção que a região serrana no que se
refere às chuvas mais intensas (alta confiabilidade).
Em complementação a este sinal climático, os resultados
indicam que o aumento na intensidade e severidade dos eventos de precipitação
muito provavelmente será maior na segunda metade do século.
Importante ressaltar que, devido à proximidade das porções
costeiras e serranas, algumas localidades desta porção costeira tendem a ser
mais impactadas pelos eventos extremos de chuva que ocorrem nas porções de
serra e em altitudes mais elevadas, pois também são influenciadas pelo efeito
orográfico.
Dentre os diversos riscos climáticos nesta porção da Baixada
Santista, destacam-se aqueles associados à processos geo-hidrológicos
(deslizamentos de terra, intensificação de processos erosivos, solapamento,
carreamento de sedimentos, enxurradas, alagamentos, inundações bruscas, etc.),
tanto pelos impactos múltiplos que podem ser causados à população, mas também
em diversas infraestruturas críticas presentes na região (portos, gasodutos,
oleodutos). Considerando o complexo mosaico da paisagem e de interações
socioecológicas nesta porção da Baixada Santista, reitera-se a atenção especial
que deve ser dada a este tipo de risco climático, considerando essas
potencialidades em planejamentos territoriais, zoneamentos ecológicos e
econômicos.
Os resultados obtidos a partir das projeções do clima futuro
indicam que a tendência de praticamente todos os índices de temperatura é muito
semelhante às demais regiões da Baixada Santista, já mencionados
anteriormente. De todos os índices
avaliados, aquele que mais se destaca dos padrões e valores observados nas outras
duas porções avaliadas, são as ondas de calor. Mesmo que a média de temperatura
seja a mais baixa entre as demais regiões, os resultados sugerem que é muito
provável que as ondas de calor aumentem significativamente nesta porção da
Baixada em comparação com as demais. Ou seja, elas aconteceriam mais
frequentemente e seriam mais longas que nas demais regiões, porém com uma
intensidade menor (alta confiabilidade).
Para se ter um parâmetro comparativa, no período de
referência (1976-2005), para a estação chuvosa, os dados observados indicam que
essas ondas de calor aconteciam cerca de 1 vez a cada 6 anos, sendo que os
modelos são contundentes ao indicar que este número aumentaria cerca de 10
vezes até 2050, chegando a uma frequência de aproximadamente 2 vezes a cada
estação chuvosa ou 1 vez a cada 3 meses (alta confiabilidade).
Para acessar o estudo completo, clique aqui.
Fonte: assessoria de imprensa GIZ